terça-feira, 13 de agosto de 2013

Vivemos numa Grande Província


Quem é quem na nação?
      Se dizemos que o Brasil, para a contagem da idade das civilizações, nasceu ontem, então devemos concluir que deixamos o campo há poucas horas, talvez minutos.
      Diante dessas crianças, sempre nos vem à mente a palavra mais cara (ao menos para os governos): educação. Aí também nos infernizam os lugares comuns: a educação vem de casa, é transmitida com o leite materno. Não por outra razão, ainda ouvimos dizer ou lemos (com frequência bem menor, é verdade), que a família é a cellula mater da sociedade. Em miúdos: o adulto, segundo alguns psicólogos, carrega vida afora o seu berço da infância, em especial quando os obstáculos do mundo provocam seus sentimentos mais atávicos. Ainda que sejamos menos deterministas (o que parece ser cada vez mais contra-corrente), ou totalmente liberais (a corrente cada vez mais aberta, fechada...), seja qual for o nosso centro ou nosso extremo, ainda assim concordamos com mais um lugar comum: a criança é o pai do homem.
      Superado o parágrafo dos lugares-comuns (pois esse não é o nosso assunto), ao olharmos as obras desse jovem mancebo tecno-eletrônico, somos obrigados a concordar que, por vias aéreas, ou seja: a razão, o portuga-americano evoluiu bastante, dentro das lições industriais e financeiras do mundo ocidental. Na infra-estrutura, com grande rapidez ao longo dos últimos 80 anos, os progressos dos filhos dessa mãe gentil (descontados os gargalos das cidades, das estradas, dos aeroportos, etc., afinal uma maneira de comprovar, pelo viés dos otimistas, o sucesso desenvolvimentista do modelo econômico), são visíveis a olho nu e respiráveis a narinas carbônicas. Deixemos os outros sentidos em paz! Bem, já que não conseguimos superar os lugares-comuns, concluamos este parágrafo com mais um: o colono adulto implementou e desenvolve muito bem a cartilha do chamado (pelos inimigos do modelo, claro!) capitalismo selvagem.
      Mas se o desenvolvimento material e econômico da nação foi notável nesses anos todos (só para lembrar: algumas estatísticas tradicionais, baseadas em índices financeiros e econômicos, apontavam o Brasil do século passado como o país que mais se desenvolveu no mundo), se nesse campo, ops!, se nesse meio urbano e adjacências o desenvolvimento do país foi notável, no outro terreno das vias aéreas, ou no outro hemisfério do cérebro, onde se situa a mentalidade do ser humano (criando aqui uma original separação entre mente e razão!), nessa área, devemos concordar, o Brasil tem avançado a passo de cágado. O responsável, como devem ter percebido os alunos mais espertos da turma, é esse adulto que, ainda hoje, no finalzinho da manhã ou no início da tarde, deixou o campo e migrou para a cidade.
      Mas afinal quem é esse adulto? O que pensa ele? Podemos dizer que ainda é uma criançola?
Elite migratória predadora
   Estamos falando dos filhos, netos e, em alguns casos, já dos bisnetos dos homens e mulheres que comandavam e sofriam aquele antigo Brasil. Esses avós, juntamente com os pais fundadores da nação (portanto avós desses e bisavós e tetravós daqueles), foram os criadores, trabalhadores e vítimas de uma sociedade estamental, escravagista e predatória, que por séculos explorou sem dó nem piedade os potenciais naturais e humanos do grande e vasto território. Exterminaram índios a bala (hoje botam fogo nos que sobraram, deve ser porque é mais barato!), ferraram e montaram negros escravos como se fossem bestas de carga, constituíram-se em coronéis da terra para controlar a mão-de-obra e o voto, tudo na velha tradição patriarcal e bastante cristã, alicerçada no mandonismo de quem pode e no obedecismo de quem precisa. (Não confundir com obedeceísmo, que é o movimento de apoio de certas categorias em torno do poder.) E para que ninguém sinta falta dos lugares-comuns: era o governo elitista de oligarquias autoritárias.
      Isso até hoje de manhã.
      Se o nosso silogismo está correto... Recapitulando: aplicamos os conceitos da psicologia do indivíduo na constituição e desenvolvimento da nação (método bastante novo e original!) e obtivemos como resultado a mentalidade quatrocentona de uma civilização exploratória do homem pelo homem. Não vamos dizer que o homem é o lobo do homem, para evitar mais um lugar-comum e em respeito aos lobos, e sobretudo às mulheres, afinal elas hoje também estão no comando dessa cultura canibalesca à nossa volta.
Os Empalhaços produzidos pela política do país
      Bingo!: podemos então afirmar, sem sombra de dúvida, que o Brasil ainda é um país interiorano, na pior acepção da palavra (essa modulação criminal é de suma importância!), em sua formação e estruturação psicológica. Ou seja, a sombra agrária e estamental ainda está presente na mentalidade nossa e de nossos dirigentes, ou, o substrato mental, o espírito primitivo da nação (como já perceberam os melhores alunos da classe), de certa forma (mas de uma forma dialética, portanto) é a grande força que ainda preside a nossa realidade política, econômica, social, etc; ou numa só palavra: cultural.
      A conclusão do silogismo só pode ser uma (não, não falarei em revolução nem em banho de sangue): vivemos numa Grande Província!